quarta-feira, 17 de setembro de 2008

você tem muita luz

Elas largam-se no ar ao ver você passar lá por baixo, caminhando distraída da rua, e vão suavemente despencando para o chão em sua direção . 
Uma a uma em queda leve descendo docemente para tocar  o seu colo e depois, em seu corpo, transbordando os perfumes coloridos vão brincando de rolar até seus pés e então tecem tapetes, em amarelos e lilases, para colorir o chão do seu caminho 

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Fabiano


Lembro bem como veio até mim rápido, intrometido. Lembro como não quis que viesse, alguns medos sem cara ou nome me circundavam, receios construídos em uma vida, vale largo. Mas ele, sem consciência disso transpôs com facilidade, com suas pernas tão mais curtas que as minhas, este intervalo de espaço e de tempo que havia entre nós. Por fim, cedi aos seus cheiros de menino bom. Fabiano, ponto de luz, veio chegando rápido em minha vida, como um vazamento luminoso por de trás do céu em penumbra, reminiscência brilhante que surge pequena e pontuda quando o mundo apaga.


 Gastava algumas horas da tarde sentada no banco do parque observava ,a espera de  colisões, as crianças brincando descontroladas por energia de quem cresce e quer. Elas iam desviando das quinas, sempre correndo, entre as construções velhas e precárias de ferro. Não havia muitas opções; dois balanços, um escorregador, um trepa-trepa, uma área de areia e um extenso gramado pisoteado, repleto de grama corrompida pelas centenas de pisadas leves. E iam infinitamente interagindo, se dividiam em filas contavam até dez e já era hora do próximo, e ai de quem não saísse em pulos pelo ar ao chegar berrado em coro o numero de ordem, o assento carcomido de tábua vermelha era almejado por todos, enquanto outras iam montadas em seus enormes cavalos transparentes esculpidos no ar pelos pequenos dedos, em galope se esquivavam com facilidade dos acidentes eminentes, emboscadas que havia a cada metro de terra. E foi lá que iniciou a minha crença em anjos, punhados deles, centenas a nos sobrevoar com suas asas coloridas,translucidas e diáfanas riscando o vento, todo o espaço.

 Aquele caos organizado dos parques de praças me detinha, os gritos delas criavam um emaranhado agudo e indecifrável que curiosamente me acomodava. Ele, Fabiano, me enredava mais que as outras. Menor que todos, bem pequeno, um dos dentes da frente da arcada era graciosamente estragado, seus olhos grandes, bem maior que toda a cara sempre brilhavam em contraste com os infinitos marrons da pele, areia em princípio de chuva, Fabiano era rajado!Vinha sempre correndo sem algum pudor pular no meu colo e, o susto que a sua velocidade sugeria, era amortecido e desfeito pelo impacto de nossos corpos, Fabiano tinha o peso dos pássaros.  

 Então conversávamos muito sobre qualquer coisa, pipas, doces, rinocerontes, pulgas. Tentávamos juntos desvendar o som das letras enquanto colecionávamos folhas caídas e vibrávamos com outras miudezas.A tarde era uma tarde ao lado de Fabiano.
Em jogos de adivinhas e outras brincadeiras encontrou o que de mim, e em mim, se escondia. Entre tantos tesouros desenterrados me ensinou um segredo valioso; certo fim de tarde me puxou ansioso e apontou o dedo mostrando no alto da arvore uma colmeia e entusiasmado disse saber bem que aquilo la no meio das folhas era um cacho de mel. (...)

domingo, 31 de agosto de 2008

quase carne


Ela te faz entender as coisas, te indica com setas luminosas onde deve pisar, você confia muito nela.

Você está contido nela e Ela não deixará seus gestos irem além, pois já te proporciona o necessário e sem nenhum risco de escassez, assim tudo fica ao alcance de sua boca. Ela amarrou suas mãos, suas pernas, cortou as asas de seus devaneios, interrompeu seu gozo com um olhar, mas não é parcimoniosa pois, em um único gesto da ponta do dedo que indic, faz desgrudar seus lábios, descerra seus dentes e te lança o alimento. Cabe à você apenas a parte, automática, de mastigar sem provocar grande atrito, a refeição é macia pq bem cozida, te coloca satisfeito apenas com o esforço seu de não usar a força dos dentes.

Ela te aconselha muito bem, você enxerga e entende tudo através dela.

Vi que Ela te acenou as mãos alvas, agora entrega à você uma delas espalmada, você, com olhinhos cativos de menino à agarra apertando forte e com fé, os dedos seus estão entrelaçados com os dela, duramente intercalados, vocês estabeleceram um pacto. Você está feliz agora e sorri tranqüilo, nenhum conflito. Caminha de cabeça erguida, cumprimenta todos, satisfeito com sua honestidade. Não há mais correnteza para escurecer, com a areia negra das profundezas da sua vontade, as águas claras e quietas da sua conduta que, em erro, outrora se agitaram provocando-lhe enjôos. agora sua consciência é calmo e translúcido lago.

Você é fiel à Ela que te faz entender as coisas,

te embala em inércia para que não cometa erros, assentou sobre você, em forma de sentença, dúzias de valores e te deixou reluzente em princípios, ah! Você pode respira fundo, finalmente com as duas narinas e sente a paz te ocupar por inteiro. Ela é sua companheira! E assim você caminha solenemente, enquanto multidões de homens e de mulheres, sem rostos, te aplaudem. O reconhecimento soergue-se no ar quando recitam em coro o seu segundo nome.Você está feliz e satisfeito.

olhe em volta


 não se faz necessária tanta reflexão. É uma questão assim de tão fácil discernimento. , pq continua a insistir em confundir ser querido com ser requerido?  são só coisas fluidas como a água. Pode conseguir fugir do elemento que tanto te bota medo, meu caro gato, mas não vê que da sensação, dessa não foge! Essa te arrasta, vai te rolando e arranhando pela orla, caminho único que se permitiu.
Veja bem que pra lá do primeiro, e segundo e infinito pensamento, e pra cá, um pouco antes do instinto ,entre eles, existe o sentimento, este encurralado e escondido só vai fazer te confundir, destoante, te atormentará em luas gordas e te botará em hora doido e doído.
É que quando o fruto amadurece, nessa maneira que pretende sem saber, o encontro com chão é forte.meu querido ser individual, não olhe tanto pro centro do seu ventre. Não seja assim de tão rígida e mesquinha posição. Erga a cabeça ,olhe em volta, sinta o vento que passa, eleve-se um pouco nele. Olhe para os lados, ! Olhe, olhe fundo, os olhos que te olham assim com tanta graça.

a Verdade


Em ‘as’ onerosos que vinham subidos rápidos da boca do estomago, trepados pela garganta, chegando como límpido estrondo, ecoante. Na acústica da cavidade bocal finalizando-se, dos dentes entre abertos soltavam-se errantes, chispados pra fora em direção minha. Gritaram em minha face, e em seu reverso também,tudo o que era unilateralmente verídico.
Era grave ruído, ruído oriundo de corpos amorfos e satisfeitos dos objetos maduros, deglutidos, que começavam a fermentar. Não me agradava os sons desprendidos por eles à mim, mas habituei-me e concordo. Entendendo a posição assumida pela parte, também o faria se neste prato da balança tivesse tantos quanto do lado de lá. Mas perdi pendido aqui, meu prato vazio suspendendo-me.
Creio que os abjetos sazonados não faziam por mal mas, simplesmente, agindo contra azia pela qual passavam, pensavam assim formas baratas de aliviar-lhes os estômagos, apontar cá pra mim a culpa por toda a indigestão medonha de seus organismos falhos. Descarregavam o mal estar da barriga pesada, cedendo ao meu tempero, a causa culposa do caso.
Mal percebiam, quando falavam suas ásperas verdades sobre meus tons esverdeados, que as faces deles possuíam coloração amarela, não amarelo que precede a madureza do alaranjado e vermelho, tão estimado por eles, era o amarelo proveniente da bílis. As vesículas cansadas e obstruídas, em extravasamento retroativo, proporcionavam tais matizes aos respectivos. Eles eram, de mãos dadas, os monopolizadores da verdade e donos de um aspecto pavoroso

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

mulher

Ela sente bem bonito! A lágrima dourada brotou no canto do olho, não era de dor e mostrou verdade.
 E era lindo ver correr no rosto, iam mudando de cor, a gota e a face. A gota brilhando em prismas de infinitos azuis, vermelhos, lilases refletidos na água salgada os matizes do Esplendor que ela via. As bochechas corando como o entardecer de um dia de luz de verão forte. Com a mão esquerda enxugou o rosto, borrando a cara com cor, enquanto a direita gesticulava aflita, mil dedos, e disse ser boba, mas não era não.

porcelana


 Fizera-me perdido, absorto, desconcentrado de mim. Por alguns longos minutos levou-me enlevado, estático, extasiado. Sua beleza, ah!

Ah, botou-me melancólico, embebido em dia nublado, reportou-me à uma velha casa de um tempo já passado. Lembrava-me aquelas bonecas. Sim, é certo, existia nela uma convergência dos traços, que compunham o desenho da face, na mesma rotina que havia nas linhas dos rostos, e todo o resto, daquelas velhas bonecas empoeiradas de porcelana. Primeiro na estante a compor a lúgubre decoração e depois sumidas, pra onde?

Exacerbadamente delicadas delicadamente tristes, tristeza ofensiva esquecidas em canto escuro. Sua pele branca, porcelana rachada, a compor jogo de contrastes lânguidos com o ambiente apagado que no arredor se fazia, praça pálida, nenhum sol.

O corpo mole de espuma cansada, já sem conseguir sustentar a cabeça de matéria dura, tombava-lhe toda por cima do ombro escolhido, torpor. Os pés também, duramente parados, enterrados na sua imobilidade de boneca. Brinquedo velho, lembranças velhas. Brinquedo coisa, coisas que já não queremos mais.

Do lado de lá do gramado achou-me, mirou-me os olhos, calafrio! Desviei-me todo, incomodado sentado no sofá em frente à estrutura de mogno, tabuas fortes sobrepostas no horizonte, paralelas, intercaladas todas pelas incontáveis criaturinhas.

O céu fazia-se denso concreto cinza, o vento que passava, a cantar em sopros, conduzia em dança os cabelos negros. Olhava-a, agora com olho no canto, disfarçava bem. Pra lá dos longos fios, no plano ao fundo, aquelas flores amarelas murchas, não amarelo ocre, amarelo gasto, quase bege, dentro da moldura escura, posta torta na parede úmida, eu prostrado (...)s

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O céu fazia-se denso concreto cinza. o vento que passava, a cantar em sopros, conduzia em dança os cabelos negros. olhava-o, agora com olho no canto, disfarçando bem.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ao Pai


. É que fazia ele com a caneta tinteiro coisas de pincéis de cor. E nos desenhos de tinta fazia música. Era um louco da sensibilidade posto na encruzilhada das sensações, atento a tudo sem querer. Vertia em palavras, desenhos e som as verdades delicadas da alma. E até o mais singelo dos homens se coloria todo ao ver, sem notar, o além daqui, o pra lá do céu, o infinito que reluzia dentro da folha cheia.