segunda-feira, 25 de agosto de 2008

porcelana


 Fizera-me perdido, absorto, desconcentrado de mim. Por alguns longos minutos levou-me enlevado, estático, extasiado. Sua beleza, ah!

Ah, botou-me melancólico, embebido em dia nublado, reportou-me à uma velha casa de um tempo já passado. Lembrava-me aquelas bonecas. Sim, é certo, existia nela uma convergência dos traços, que compunham o desenho da face, na mesma rotina que havia nas linhas dos rostos, e todo o resto, daquelas velhas bonecas empoeiradas de porcelana. Primeiro na estante a compor a lúgubre decoração e depois sumidas, pra onde?

Exacerbadamente delicadas delicadamente tristes, tristeza ofensiva esquecidas em canto escuro. Sua pele branca, porcelana rachada, a compor jogo de contrastes lânguidos com o ambiente apagado que no arredor se fazia, praça pálida, nenhum sol.

O corpo mole de espuma cansada, já sem conseguir sustentar a cabeça de matéria dura, tombava-lhe toda por cima do ombro escolhido, torpor. Os pés também, duramente parados, enterrados na sua imobilidade de boneca. Brinquedo velho, lembranças velhas. Brinquedo coisa, coisas que já não queremos mais.

Do lado de lá do gramado achou-me, mirou-me os olhos, calafrio! Desviei-me todo, incomodado sentado no sofá em frente à estrutura de mogno, tabuas fortes sobrepostas no horizonte, paralelas, intercaladas todas pelas incontáveis criaturinhas.

O céu fazia-se denso concreto cinza, o vento que passava, a cantar em sopros, conduzia em dança os cabelos negros. Olhava-a, agora com olho no canto, disfarçava bem. Pra lá dos longos fios, no plano ao fundo, aquelas flores amarelas murchas, não amarelo ocre, amarelo gasto, quase bege, dentro da moldura escura, posta torta na parede úmida, eu prostrado (...)s

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