sábado, 26 de dezembro de 2009

Círculo


Era no contorno, no limite da pele constrangida pelo ar pesado da vida que tentava desmarcar-se. Forjava uma mascara com muito pó e, marcando-se com cores espessas, tentava apagar as linhas que flagravam o tempo corrido sobre a palidez flácida da carne. Todos os dias pela manhã concentrava os poucos fios os atrofiando no topo e, mesmo com ralos cabelos, sentia a cabeça pesada repleta de pensamentos pequenos cada vez menos dignos de atenção, herdeiros do vício, deformavam o tempo o ocupando todo numa avidez atordoante. Restringiam o espaço os paralisados olhos depravados, sobre o mesmo viés torto e vacilante, e toda vastidão incerta era subtraída pela certeza da mesmice infértil.
Homens de vento passavam corridos e senti-los era se perder dentro da ventania- rotineiramente satisfazia-se em desalinho. Fazendo abandonar o equilíbrio o vento batia violento nas pernas, levantava a saia a bagunçando, soterrando toda a lógica de manter-se em pé a derrubava no chão e a rolava na terra seca.Arrancava com aspereza todo pó colorido deixando insuportavelmente a face nua, o cabelo se desfazia insistindo em pousar sobre os olhos.
Sofregamente abatia-se a vontade, mais uma vez, num miserável deleite. E Eles corriam furtivamente em toda sua volta impedindo passagem, num óbice arredondado do qual não se escapava pois sair era voltar ao ponto inicial .